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Jorge Luis Jószás de Purgly
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Quilombo dos Palmares

Quilombo dos Palmares

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Quilombo_dos_Palmares

Quilombo dos Palmares

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Quilombo dos Palmares foi um quilombo da era colonial brasileira. Localizava-se na serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco, região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, no estado brasileiro de Alagoas.
Conheceu o seu auge na segunda metade do século XVII, constituindo-se no mais emblemático dos quilombos formados no período colonial. Resistiu por mais de um século, o seu mito transformando-se em moderno símbolo da resistência do africano à escravatura.

História

Antecedentes

As primeiras referências a um quilombo na região remontam a 1580, formado por escravos fugitivos de engenhos das capitanias de Pernambuco e da Bahia.

O apogeu

À época das invasões holandesas do Brasil (1624-1625 e 1630-1654), com a perturbação causada nas rotinas dos engenhos de açúcar, registrou-se um crescimento da população em Palmares, que passou a formar diversos núcleos de povoamento (mocambos). Os principais foram:
  • Cerca Real do Macaco - o maior centro político do quilombo, contando com cerca de 1.500 habitações;
  • Subupira - centralizava as atividades militares, contando com cerca de 800 habitações;
  • Zumbi- era o líder do povo.Tornou-se símbolo da luta dos afro-brasileiros contra a opressão e a discriminação;
  • Dandara - esposa de Zumbi, liderava as falanges femininas do exército palmarino.
Embora não se possa precisar o número de habitantes nos Palmares, de vez que a população flutuava ao sabor das conjunturas, historiadores estimam que, em 1670, alcançou cerca de vinte mil pessoas. No principal mocambo, a Cerca Real do Macaco, calcula-se que viviam em terno de 6 mil pessoas, quase a população do Rio de Janeiro, estimada, em aproximadamente 1660, em 7 mil (incluindo indígenas e africanos)[1]
Essa população sobrevivia graças à caça, à pesca, à coleta de frutas (goiabacajuabacate e outras) e à agricultura (feijãomilhomandiocabananalaranja e cana-de-açúcar). Complementarmente, praticava o artesanato (cestastecidoscerâmicametalurgia). Os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a alugar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas.
Pouco se sabe, também, acerca da organização política do quilombo. Alguns supõem que se constituiu ali um verdadeiro Estado, nos moldes dos reinos africanos, sendo os diversos mocambos governados por oligarcas sob a chefia suprema de um líder.
Outros apontam para a possibilidade de uma descentralização do poder entre os diferentes grupos, pertencentes às diversas etnias que formavam os núcleos de quilombos, que delegavam esse poder a lideranças militares conforme o seu prestígio. As mais famosas lideranças foram Ganga Zumba e seu sobrinho, Zumbi. Apesar disso, alguma forma de trabalho compulsório também foi praticada dentro do quilombo.[nota 1]

A repressão

Zumbi dos Palmares foi decapitado e sua cabeça exposta até completa decomposição no Pátio do Carmo (foto), Recife.[2]
Com a expulsão dos holandeses do Nordeste do Brasil, acentuou-se a carência de mão-de-obra para a retomada de produção dos engenhos de açúcar da região. Dado o elevado preço dos escravos africanos, os ataques a Palmares aumentaram, visando a recaptura de seus integrantes.
A prosperidade de Palmares, por outro lado, atraía atenção e receio, e o governo colonial sentiu-se obrigado a tomar providências para afirmar o seu poder sobre a região. Em carta à Coroa Portuguesa, um governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os neerlandeses.
Foram necessárias, entretanto, cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente o Quilombo dos Palmares.
No último quartel do século XVIIFernão Carrilho ofereceu a Ganga Zumba, um líder que implementou táticas de guerrilha na defesa do território, um tratado de paz (1677). Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis na região de Cocaú. Grande parte dos quilombolas rejeitou os termos desse acordo, nitidamente desfavoráveis e, na disputa então surgida, Ganga Zumba foi envenenado, subindo ao poder o seu irmão, Ganga Zona, aliado dos portugueses. O acordo foi, desse modo, rompido, tendo os dissidentes se restabelecido em Palmares, sob a liderança de Zumbi.
No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva por um tipo de estratégia de guerrilha, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos, empregando-os em novos ataques.

A ação de Domingos Jorge Velho

Ver artigo principal: Guerra dos Palmares
Após várias investidas relativamente infrutíferas contra Palmares, o governador e capitão-general da Capitania de PernambucoCaetano de Melo e Castro, contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho e o capitão-mor Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.
O quilombo passou a ser atacado pelas forças do bandeirante e, mesmo experientes na guerra de extermínio, tiveram grandes dificuldades em vencer as táticas dos quilombolas, mais elaboradas que a dos indígenas com quem haviam tido contato. Adicionalmente, tiveram problemas para contornar a inimizade surgida com os colonos da região, vítimas de saques dos bandeirantes em diversas ocasiões.
Em janeiro de 1694, após um ataque frustrado, as forças do bandeirante iniciaram uma empreitada vitoriosa, com um contingente de seis mil homens, bem armados e municiados, inclusive com artilharia. Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho de que seria libertado em troca da revelação do esconderijo do líder, Zumbi foi encurralado e morto em uma emboscada, a 20 de novembro de 1695.
A cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública no Pátio do Carmo, no alto de um mastro, para servir de exemplo a outros escravos.[2]
Sem a liderança militar de Zumbi, por volta do ano de 1710, o quilombo se desfez por completo.

Escravidão em Palmares

Busto de Zumbi dos Palmares, em Brasília
Apesar ser vista por alguns movimentos e setores da sociedade como representantes da resistência à escravidão, muitos quilombos contavam com a escravidão internamente. Esta prática levou vários teóricos a interpretarem a prática dos quilombos como um conservadorismo africano, que mantinha as diversas classes sociais existentes na África, incluindo reis, generais e escravos.[3]
Para alguns autores, no entanto, a escravidão nos quilombos em nada se assemelharia à escravidão dos brancos sobre os negros, sendo os escravos considerados como membros das casas dos senhores, aos quais deviam obediência e respeito,[4] semelhante à servidão entre brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.[5] Para estes autores, a prática da escravidão teria dupla finalidade:[4]aculturar os escravos recém-libertos às práticas do quilombos, que consistiam em trabalho árduo para a subsistência da comunidade, já que muitos dos escravos libertos achavam que não teriam mais que trabalhar, e diferenciar os ex-escravos que chegavam aos quilombos pelos próprios meios (escravos fugidos, que se arriscavam até encontrar um quilombo. Sendo, neste trajeto, perseguidos por animais selvagens e pelos antigos senhores, e ainda, correndo o risco de serem capturados por outros escravistas), daqueles trazidos por incursões de resgates (escravos libertados por quilombolas que iam às fazendas e vilas para libertar escravos).
Por outro lado, outros autores apontam a existência de uma escravidão até mesmo predatória por parte dos habitantes do quilombo dos Palmares, que realizavam incursões nos territórios vizinhos, de onde traziam à força indivíduos para trabalharem como escravos em suas plantações, desenvolvendo assim uma espécie de "escravismo dentro da própria 'república'."[6][7] Escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos também eram capturados e convertidos em cativos dos quilombolas.[8]

Filmografia

Ver também

Notas

  1. Ir para cima Dentro de uma visão historiográfica mais recente, o principal historiador a reinterpretar o que ocorreu nos quilombos brasileiros é o carioca Flávio dos Santos Gomes na obra Histórias de Quilombolas, onde afirma: "Ao contrário de muitos estudos dos anos 1960 e 1970, as investigações mais recentes procuraram se aproximar do diálogo com a literatura internacional sobre o tema, ressaltando reflexões sobre cultura, família e protesto escravo no Caribe e no sul dos Estados Unidos". Essa corrente, recorrendo a fontes primárias e baseando-se no modo de pensar da época, busca desfazer diversos mitos criados sobre Palmares no século XX, concluindo que ali existiu uma hierarquia estratificada, com servos e reis tão poderosos quanto os dos reinos na África; que Zumbi e outros chefes tinham os seus próprios escravos; que as cartas nas quais um padre daria detalhes acerca da infância de Zumbi provavelmente foram forjadas; e que, ao romper o acordo de Ganga-Zumba com os portugueses, o próprio Zumbi pode ter decretado o fim do quilombo. Ver Leandro Narloch. O Enigma de Zumbi. in: Revista Veja. Consultado em 15 Nov. 2008.

Referências

  1. Ir para cima (1) SCHWARCZ; (2) STARLING, (1) Lilia, (2) Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
  2. ↑ Ir para:a b «Afro-descendente recebe medalha». UOL.com.br. Consultado em 7 de março de 2015
  3. Ir para cima Libby, Douglas Cole e Furtado, Júnia Ferreira. Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. págs. 321-322. Annablume, 2006 - ISBN 8574196274, 9788574196275
  4. ↑ Ir para:a b Landmann, Jorge. Tróia Negra. Mandarim, 1998 - ISBN 8535400931, 9788535400939
  5. Ir para cima Cornwell, Bernard. O Último Reino. Record, 2006 - ISBN 8501073520, 9788501073525
  6. Ir para cima Risério, Antonio. A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros. [S.l.]: Editora 34 data = 2007. p. 406. ISBN 8573263857, 9788573263855
  7. Ir para cima Berger, Marc. O Quilombo - Forma de Resistência Histórica dos Escravos. [S.l.]: GRIN Verlag. p. 11. ISBN 3638943577, 9783638943574
  8. Ir para cima Martins, José de Souza, professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia da Universidade de São PauloO Estado de S. Paulo, 19 de novembro de 2006. Citado em Mendonça, Armando. 'Vi Li Ouvi VI, p. 71. Thesaurus Editora, 2008. ISBN 8570627610, 9788570627612.

Bibliografia

  • CARNEIRO, Edson. O quilombo dos Palmares. São Paulo: Nacional, 1958.
  • FREITAS, Décio. Palmares. A guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento, 1973.
  • MATTOSO, Kátia de QueirósSer escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982.
  • MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981.
  • MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala. s.l.: Zumbi, 1959.
  • PERET, Benjamin. O quilombo dos Palmares, ensaios e comentários de M. Maestri e R. Ponge (org.), Porto Alegre: EdiUFRGS,2002.
  • REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (org.) Liberdade por um fio. História dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Presença Indígena no Quilombo de Palmares

Presença Indígena no Quilombo de Palmares





Palmeiras buritis, desenhadas em Quilombo, Mato Grosso, Adrien-Aimée Taunay, 1827.

Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/indios-apiaka-de-hercules-florence-um-olhar-sobre-a-cultura-indigena/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues




Humanos no Brasil antes de Cabral segundo a historia oficial

Humanos no Brasil antes de Cabral segundo a História Oficial

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_pr%C3%A9-cabralina_do_Brasil

História pré-cabralina do Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
história pré-cabralina do Brasil é a etapa da história do Brasil anterior a chegada dos portugueses em 1500, protagonizado pelo navegador Pedro Álvares Cabral,[1] à época em que a região onde hoje é o território brasileiro era ocupada por milhares dos chamados povos indígenas brasileiros.
O termo pré-história do Brasil também era usado para se referir este período, mas foi abolido por vários motivos. Devido o termo "pré-história" modernamente ser combatido por alguns acadêmicos, pois parte de uma visão eurocêntrica de mundo, na qual os povos sem escrita seriam povos sem história (prefixo “pré” indica anterioridade, ou seja, período “anterior à história”). No contexto da história do Brasil, essa nomenclatura não aceitaria que os indígenas tivessem uma história própria.[1] Por essa razão, costuma-se hoje denominar esse período histórico como pré-cabralino.
A pré-história tradicional geralmente se divide nos períodos paleolíticomesolítico e neolítico. Porém, atualmente, essa periodização tem sido revista no mundo todo. No Brasil, alguns autores preferem trabalhar com as épocas geológicas do atual período quaternário: o pleistoceno e o holoceno.[2] Neste sentido, a periodização mais aceita se divide em: pleistoceno (caçadores e coletores com pelo menos 12 000 anos atrás) e holoceno, sendo que este último pode ser subdividido arcaico antigo (12 000 a 9 000 anos atrás), arcaico médio (9 000 a 4 500 anos atrás) e arcaico recente (de 4 000 anos atrás até a chegada dos europeus). Acredita-se que os primeiros povos começaram a habitar a região onde hoje se situa o território brasileiro há 60 mil anos. Recomenda-se o uso da abreviação a.p. (antes do presente) para referir-se aos anos de acontecimento de cada período.

Metodologia de estudo


Serra da Boa Vista, onde recentemente foram encontrados vestígios arqueológicos.

Megalitos no Parque Arqueológico do Solstício, no Amapá, erguidos entre 500 e 2000 anos atrás, provavelmente para a realização de observações astronômicas.

Pintura rupestre dos indígenas pré-cabralinos em Cachoeira Resplendor, Pará.
O Estudo da história brasileira antes de 1500 é feito, sobretudo, por meio da arqueologia, uma vez que os povos que ocuparam o território onde hoje se encontra o Brasil não possuíam, até onde sabemos, escrita.[3][2] Estudos linguísticos, etnológicos e históricos têm auxiliado as pesquisas arqueológicas na medida do possível. No entanto, poucos foram os autores que tentaram reconstruir essa história de forma panorâmica (e as tentativas dos arqueólogos de estabelecer uma visão geral da história Pré-Cabralina não se provaram satisfatórios).[2] Para complicar mais a situação, ainda falta muito a ser feito em vários níveis de pesquisa – registros de línguas e comparações, análise de materiais escavados, relações entre sítios diversos da antiguidade e outros do período colonial, etc.[2]
O primeiro estudioso a se indagar sobre o passado brasileiro foi o dinamarquês Peter Wilhelm Lund.[2] Este naturalista foi responsável pelo estudo de várias reminiscências de plantas antigas nas grutas da região de Lagoa Santa (Minas Gerais), onde se fixou, entre 1834 e 1880.[2][4] Em suas buscas, chegou a encontrar ossos humanos misturados a esses vestígios pré-históricos, um dos primeiros achados que contradizia a teoria da criação bíblica. Foi o primeiro a defender a antiguidade do homem americano, baseado em achados arqueológicos, mas não conseguiu convencer a comunidade científica de sua época.[2]

Sambaquis

Ver artigo principal: sambaquis
Os sambaquis, montes de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana, foram vestígios arqueológicos responsáveis por suscitar considerável debate científico no século XIX.[4] O diretor do Museu Nacional – que junto do Museu Paulista representava o interesse oficial acerca dos fatos histórico-arqueológicos no Brasil –, Landislau Neto, enviou as primeiras expedições científicas para estas regiões. Após anos de pesquisas, essas missões alegaram que "montes de conchas" teriam formação antropogênica, isto é, origem humana. Hermann Von Ihering, contudo – o diretor do Museu Paulista – primeiramente se opôs a essa visão, dizendo que os restos de conchas teriam sido formados por fenômenos naturais e intertropicais.[2]

Para saber mais, clique sobre as palavras mais informaçoes em letras pequenas, abaixo.



Entre 1880 e 1900 ocorreram as primeiras escavações na Amazônia.[1][2] Descobertas extasiantes de cerâmicas marajoaras foram realizadas nesse período[1], e foram analisadas em 1882 pelo egiptólogo Paul l´Epine, que acreditava identificar na cerâmica indígena grafias egípcias e asiáticas. Emílio Goeldi também realizou, nesta época, pesquisas importantes no norte.[5] O austríaco J.A. Padberg-Drenkpohl, contratado após a Primeira Guerra Mundial pelo Museu Nacional, foi outra figura importante da história da arqueologia brasileira, que escavou, entre 1926 e 1929, em Lagoa Santa. Seu objetivo era encontrar vestígios em Lagoa Santa que comprovassem os achados clássicos de Lund. Drenpohl, contudo, não foi bem sucedido em sua empresa, tendo passado a criticar os defensores da antiguidade do homem de Lagoa Santa. Em 1934, pouco depois da última expedição de Drenkpohl, Angione Costa publicou o primeiro manual de arqueologia brasileira.[2]
Depois de 1950 a arqueologia oficial se contraiu, enquanto aumentou o número de amadores que passaram a realizar pesquisas no país. Um desses foi Guilherme Tiburtius, imigrante alemão em Curitiba, que teria realizado uma das buscas mais importantes de antiguidades indígenas pelo Brasil, coletando artefatos para sua coleção (recebida pelo Museu do Sambaqui de Joinville). Estudou o litoral catarinense e o planalto paranaense, tendo sido auxiliado pela Universidade Federal do Paraná em suas pesquisas. Harold V. Walter, cônsul inglês em Belo Horizonte, foi responsável por buscas no Estado de Minas Gerais, na região de Lagoa Santa. A despeito de ter empregado uma metodologia pouco válida para os dias atuais, contribuiu muito para a coleta de informações sobre a era pleistocênica. Ainda nessa época, foram realizados esforços substanciais no sentido de se preservar o patrimônio histórico brasileiro. Graças ao esforço de diversos intelectuais, o Instituto de Pré-História da USP (atualmente integrado ao MAE)[6] foi criado, enquanto, alguns anos mais tarde(1961), uma nova legislação sobre o patrimônio era promulgada.[2] Acompanhando esse avanço na questão de preservação da memória brasileira, havia sido realizadas escavações na foz do amazonas, por Clifford Evans e Betty J. Meggers entre 1949 e 1950, descobrindo importantes artefatos cerâmicos, e em São Paulo e no Paraná entre 1954 e 1956 por Joseph Emperaire e Annette Laming – onde foram feitas as primeiras datações carbono catorze.[2][7]
A história recente da arqueologia no Brasil inclui a criação da PRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas)[8] com o auxílio do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)[9], que teria como objetivo realizar buscas para fornecer um panorama mais completo do passado histórico-cultural brasileiro. Enquanto isso, instituições como o Museu Nacional, o Museu Paulista e o instituto de Pré-História realizaram pesquisas isoladas, enquanto o Museu Emílio Goeldi se lançou num projeto chamado PRONAPABA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica). Vários estudos foram realizados desde então sobre os sambaquis, a pintura rupestre brasileira[1] e a indústria lítica antiga. Em 1980 foi criada a primeira Sociedade de Arqueologia Brasileira.[10][11] O ensino de arqueologia é hoje ministrado no Brasil, embora de forma limitada.[4]

Pleistoceno: (60 000 - 12 000 a.p.)

Ocupação do território


Inscrições paleolíticas no Costão do Santinho, em FlorianópolisSanta Catarina.
A ocupação do território americano é um tema que tem gerado controvérsias substanciais, sobretudo porque muitos arqueólogos ainda são reticentes em aceitar que o homem possa ter chegado à América por outras vias que não o estreito de Bering.[1] Segundo a teoria tradicional, também conhecido como Teoria de Clóvis, o homem “pré-histórico” teria migrado da região atual da Mongólia para o Alasca atravessando a Ponte Terrestre de Bering.[12] Não obstante, descobertas efetuadas em sítios arqueológicos brasileiros têm colocado em questão a validade desta teoria.[1] No Piauí, por exemplo, foi encontrado um fóssil de Ancylostoma duodenale com a data de 7750 anos A.P. De acordo com alguns arqueólogos, essa espécie não poderia ter sobrevivido à travessia na Beríngia, pois teria morrido com o frio. Assim, acreditam que a existência do fóssil indica a migração de povos oriundos de regiões quentes do globo. Achados em Minas Gerais e na Bahia foram datados entre 25000 a 12000 anos A.P.[1] No sítio arqueológico Alice Boer, em São Paulo, foram encontradas peças com idade de 14200 A.P.[13] Em São Raimundo Nonato, no Piauí, os arqueólogos defendem a idade de 50 000 anos para um abrigo ocupado pelo homem “pré-histórico”.[1] Ainda neste mesmo sítio, os arqueólogos conseguiram encontrar artefatos humanos que remontassem a mais de 48 mil anos A.P.[14]
As descobertas no Brasil polemizaram a visão tradicional da ocupação da América.[15] Os arqueólogos passaram a defender outras teorias sobre as grandes migrações, entre elas, a de que o homem teria chegado à América entre cerca de 150 mil e 100 mil anos atrás, vindo por correntes Malásio-Polinésias (oriundas do sudeste asiático) ou australianas (oriundas do pacífico sul), enquanto outros autores ainda pensam numa corrente migratória originada na África. Contribuem para a definição dessas teorias as similaridades entre os vestígios materiais encontrados na América com aqueles encontrados na Oceania. De qualquer forma, pode-se admitir hoje de forma geral que o Brasil foi ocupado há 60 mil anos atrás, no que diz respeito ao Piauí.[16] As correntes migratórias teriam atingido Minas Gerais há 30 mil anos e o Rio Grande do Sul, há 15 mil anos.[17]Todo o país estava ocupado há 12 mil anos.

Luzia


Reconstituição computadorizada de Luzia, o fóssil mais antigo das Américas
Luzia é o nome do fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas.[18] Encontrado pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire na década de 1970 no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, no município de Lagoa Santa (Minas Gerais), o fóssil dessa mulher pré-histórica contribui para reacender um antigo debate em torno das origens do homem americano.[18] De acordo com o paleoantropólogo Walter Neves, responsável por batizar o fóssil, a morfologia do crânio de Luzia a aproximaria dos atuais aborígenes da Austrália e nativos da África.
Neves aventou a hipótese de que, portanto, a ocupação da América foi mais antiga do que até então se imaginava, embora não recuando muito no tempo (cerca de 14 mil anos antes do presente), e que foi realizada por povos de regiões distintas, como a Oceania e a África.[19] Essa tese não foi muito bem recebida por alguns cientistas.[18] De acordo com a National Geographic, além de as raças não serem uma maneira científica de classificar seres humanos, as diferenciações entre os grupos humanos só surgiram após 9,5 mil anos.[20]

O povo de Luzia

Os estudos realizados na região habitada por Luzia e outros paleoíndios demonstram que eles desconheciam a cerâmica e que sua indústria lítica era relativamente simples.[21]Pesquisas recentes, contudo, afirmam que esses homens eram sedentários. Achados como enterros numerosos e uso de matérias-primas existentes apenas neste local reforçaram estas ideias. Uma análise das cáries nos dentes destes americanos demonstra que eles, embora não tivessem agricultura, se aproveitavam intensamente de recursos vegetais.[22]

Holoceno no Brasil (12 000 – 4000 a.p.)

Os arqueólogos denominam por fase um complexo cultural onde os elementos são intimamente associados. Por tradição, os arqueólogos entendem as práticas e técnicas padrão dos antigos para a confecção, por exemplo, da indústria lítica e da pintura rupestre. Uma subtradição é uma divisão dentro da tradição, normalmente porque houve uma diferenciação do padrão original em dois ou mais padrões novos.
No final do período pleistocênico a temperatura variou amplamente em fases de expansão e contração das geleiras. Acredita-se que as temperaturas eram mais frias no pleistoceno do que no holoceno, quando sofreram um aumento considerável. No começo do período arcaico médio, o nível do mar se encontrava 10 metros abaixo do atual. Muitas regiões do país, como o Piauí, por exemplo, eram muito mais úmidas do que o são hoje.[18]

Nordeste e centro-sul do Brasil


Modelo de sambaqui do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
A idade paleolítica brasileira é normalmente situada entre 12 mil e 4-2 mil anos antes do presente, quando do surgimento e difusão da prática agricultora na região.[23] Antes disso, os homens viviam de caça, pesca e coleta, fato comprovado por achados arqueológicos e representações em pinturas pré-cabralinas. Nesta época, os arqueólogos constataram a existência de diferentes tipos de indústria lítica em diversas regiões do Brasil. No nordeste, vários sítios arqueológicos indicam o desenvolvimento da pedra lascada, contendo lesmas (artefato lítico em forma de lesma utilizado para raspar suportes de madeira), lascas, furadores e fogões para assar caça. A pintura rupestre era realizada nesses primeiros sítios.[18]
Na região nordeste, as técnicas de trabalho com o material lítico se tornam cada vez mais diversificadas e complexas com o passar do tempo. O número de fogões, por exemplo, aumenta conforme as datações se aproximam do ano 8 mil antes do presente. Fogueiras também são encontradas.[23][24]
As pinturas rupestres dessa região têm se revelado profundamente instigantes. Na Toca do baixão da Perna 1, por exemplo, (na área arqueológica de São Raimundo Nonato) foram encontradas pinturas rupestres que datam de 10500 anos atrás. No sítio do boqueirão da Pedra Furada, inúmeras pinturas rupestres em pigmento vermelho foram encontradas. Os autores identificam a tradição de pintura desta área como tradição nordeste.[25] Além da tradição nordeste, foram identificadas subtradições como a Várzea Grande (sudeste do Piauí) e a Seridó (Rio Grande do Norte). As figuras mais abundantes representam seres humanos, plantas e animais, mas também são encontrados grafismos puramente abstratos. Algumas paredes de caverna representam cenas de caça e celebrações rituais. De acordo com alguns arqueólogos, os temas de violência na pintura rupestre antiga estariam vinculados ao desenvolvimento técnico obtido nos anos subsequentes, responsável por promover estratégias de caça mais eficientes. A tradição nordeste se encerra há cerca de 5 mil.[26]
Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi identificada pelos estudiosos: a tradição Itaparica (GoiásMinas GeraisPernambuco, Piauí). Essa tradição teria desenvolvido ferramentas líticas lascadas como lesmas, furadores e facas, mas poucas pontas de projéteis. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca de 6500 anos atrás, quando teriam passado a se alimentar de moluscos e frutos. No centro do país, uma tradição de pintura rupestre denominada Planalto teria se desenvolvido.
As datas mais antigas no Sul são atribuídas à tradição Ibicuí (entre 13 000 e 8500 anos), composta de artefatos simples, encontrados na Bacia do Uruguai.[1][2] A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de 11 555 a 8640 anos A.P. e é composta por raspadores, facas bifaciais e pontas de projéteis.[27] Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha foliáceas) de 8500 a 6500 anos atrás, estabelecidos como tradição Vinitu. A tradição Humaitá, mais recente (entre 6500 e 2000 anos atrás) se estende de São Paulo ao Rio Grande do Sul.[2][23] Os homens dessa tradição produziram raspadores, furadores e, inclusive, zoólitos (estátuas de pedra assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de Umbu; esta teria sido responsável pela confeccção de fogões e pontas de projéteis.[1][18][28]
Os principais sítios arqueológicos do litoral são os sambaquis, montes de conchas de moluscos (com os quais se alimentavam as populações antigas) formados por ação humana.[1][29][30][31] Normalmente são encontrados junto dos sambaquis esqueletos dos antigos americanos, peças líticas, restos de alimentos, etc. Grande parte dos sambaquis brasileiros se encontram cobertos pelo mar, devido às mudanças climáticas ocorridas durante o pleistoceno tardio e o holoceno. Os sambaquis existem em quase todo o litoral brasileiro. Na época de sua descoberta, no século XIX, foram comparados com estruturas semelhantes existentes na Escandinávia. Os sambaquis são associados à tradição Itaipu. Os povos que habitavam o litoral são normalmente definidos como pescadores semi-nômades.[1][32]

Arcaico recente do sul à região nordeste (4000 a.p. até 1500 d.C.)

O aparecimento de plantas cultivadas em Minas Gerais data de 4 mil anos atrás.[33] Em São Raimundo Nonato, a agricultura parece ter sido praticada desde há pelo menos 2090 anos. Embora a cerâmica amazônica seja mais antiga que a agricultura, o mesmo fenômeno não ocorre no resto do país, onde a cerâmica mais antiga data de 3 mil anos atrás (na área de São Raimundo Nonato). Arqueólogos brasileiros consideram que o surgimento da cerâmica nas regiões em questão está ligado ao sedentarismo e à agricultura, uma vez que a cerâmica é de difícil transporte e, normalmente, teve a função de armazenar víveres. A tradição Taquara-Itaré é talvez a mais estudada tradição de cerâmica do país.[1]

Período pré-cerâmico (Amazônia) (12000 - 3000 ap)


Alguns especialistas, como Eduardo Goes Neves, argumentam que paisagens da Floresta Amazônica (acima) teriam sido moldadas pela ação dos povos pré-cabralinos.[34]. Na imagem, geoglifos em terras desmatadas na floresta amazônica do Acre.
As datações mais antigas da região amazônica atribuem aos primeiros habitantes da região datas como 12500 a.C. É provável que o território já houvesse sido colonizado anteriormente, mas apenas o avanço da pesquisa na Amazônia poderá confirmar essa hipótese. Os arqueólogos identificam um desenvolvimento da técnica de lascar pedras, começando pelo lascamento por percussão e seguindo para o lascamento por pressão. As mudanças nas técnicas de lascamento são associadas a diferentes modalidades de caça, uma voltada para os animais de grande porte, e outra para os animais de pequeno porte. Nada, contudo, é certo sobre o estilo de caça dos antigos povos amazônicos. Os estudiosos acreditam que esses povos se alimentavam de moluscos (observação baseada na descoberta de sítios como os sambaquis), pequenos animais e frutos. Os sambaquis continuam sendo os principais sítios arqueológicos desse período na Amazônia.[35]

Agricultura amazônica

Novas pesquisas em Rondônia atribuem uma antiguidade muito maior à prática da agricultura na Amazônia. De acordo com o arqueólogo Eduardo Bespalez, a agricultura amazônica pode chegar a 8000 anos, uma data próxima dos primeiros registros de agricultura no mundo. Além disso, o sítio arqueológico de Garbin reforça a tese de Ana Roosevelt de que a cerâmica não esteve associada, nas suas origens, à agricultura. Os arqueólogos brasileiros encontraram apenas indústria lítica associada à terra preta (principal indício da prática de agricultura na região). As novas descobertas podem jogar luz sobre os mistérios que envolvem desde o significado de sociedades complexas na Amazônia até as origens da Floresta Amazônica, possivelmente antropogênica.[36] De acordo com o arqueólogo Marcos Pereira Magalhães, "A Cultura Neotropical Amazônica é o resultado de um acontecimento histórico regional de longa duração, derivada da Cultura Tropical desenvolvida por sociedades de caçadores-coletores integradas social, cultural e economicamente aos recursos da floresta tropical neotropical, com a qual interagiam objetiva e subjetivamente."[37]

Período cerâmico incipiente: 3000 - 1000 a.C.

Durante essa época os povos amazônicos adotaram um estilo de vida similar ao estilo de vida adotado por muitas tribos do território atualmente. Assim, os indígenas teriam vivido em estado de relativa fixação, realizando a horticultura de raízes. Esses grupos desenvolveram a primeira cerâmica elaborada da América, com temas geométricos e zoomórficos, pinturas em tinta branca e vermelha.[38] Os vasos assumiram formatos ovais e circulares. Os grupos de estilos cerâmicos mais conhecidos são chamados de Hachurado Zonado e Saldóide Barrancóide. O último é relacionado a incisões e pinturas em vermelho e branco, enquanto o primeiro à preferência pelo hachurado zonado.[1] Cerâmicas do estilo Saldóide, encontradas no baixo e médio Orenoco, parecem terem sido criadas entre 2800 a 800 a.C. Os estilos Hachurados Zonados de Tutoshcainyo e Ananatuba datam, respectivamente, de cerca de 2000-800 a.C. e 1500-500 a.C. Muitos estudiosos admitiram que essa cerâmica tenha sido influenciado pelos complexos culturais andinos, embora hoje já se admita que os indígenas da Amazônia tenham desenvolvido essa cerâmica elaborada na própria região baixa, tendo provavelmente influenciado os Andes posteriormente.[1]
Essas sociedades praticavam, além da horticultura, caça e pesca. O consumo de mariscos foi reduzido, e esses povos passaram a se instalar nas várzeas e margens dos rios. Assadeiras de cerâmica grossa foram identificadas nesses territórios, de forma que alguns arqueólogos aventam a hipótese da presença da mandioca. Sítios desses complexos culturais foram encontrados na bacia do Ucayali, na ilha de Marajó, no Orenoco e no Amazonas.[1]

Cacicados complexos da Amazônia: 1000 a.C. – 1500 d.C.


Cerâmica produzida por antigas sociedades complexas que viviam na região da Santarém, no ParáMuseu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
O aumento demográfico das populações amazônicas na época da Pré-História tardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas da Amazônia.[39] Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam regiões da bacia amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada entre o ano 1000 a.C. e o ano 1000 d.C. .[1] Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”.[40] Essas sociedades tornaram-se cada vez mais hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, "plebeus" e servos cativos), constituíram chefias centralizadas na figura do cacique, e adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos territórios. A cerâmica dessas sociedades era altamente elaborada, demonstrando um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas funerárias elaboradas (associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações.[41] Acredita-se que a monocultura era praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.[42] Segundo a pesquisadora Anna Roosevelt, "O desenvolvimento da agricultura intensiva nos tempos pré-históricos parece ter estado correlacionado à rápida expansão das populações das sociedades complexas. Sugestivamente, os deslocamentos e o despovoamento do período histórico aparentemente fizeram com que estas economias retornassem aos padrões de cultivo menos intensivo de raízes e à captura de animais (...)."[43]
Crônicas do início do período colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura demográfica.[44]

Cerâmica complexa da fase marajoara, na Ilha de Marajó. No caso, uma urna funerária.
A cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois grupos principais: o Horizonte Policrômico e o Horizonte Inciso Ponteado. Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios agrupados sob o Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e o Guarita (Médio Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia brasileira. Entre os sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso Ponteado encontram-se: Santarém (Baixo Amazonas) e Itacoatiara (Médio Amazonas). O primeiro horizonte é caracterizado pelas pinturas brancas, pretas e vermelhas, pelos temas geométricos e pelas incisões. O segundo horizonte é caracterizado pelas incisões profundas e pela técnica de ponteação. Acredita-se que o Horizonte Inciso Ponteado estivesse associado aos antepassados dos povos de língua Karib, enquanto o Horizonte Policrômico teria sido produzido pelos antepassados dos povos de língua Tupi.
Os grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem ter tido regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra. A ocupação pré-histórica tardia do território era sedentarizada. A entrada do milho e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os americanos, data do primeiro milênio antes de Cristo.[45]

Kuhikugu (1500 a.p. - 400 a.p.)

Ver artigo principal: Kuhikugu
Uma das civilizações amazônicas conhecidas por ter desenvolvido grandes cidades e vilas durante o período Pré-Colombiano foi a de Kuhikugu.[46] O sítio arqueológico de Kuhikugu, descoberto pelo arqueólogo Michael Heckenberger, se localiza dentro do Parque Nacional do Xingu (região do alto Xingu), e provou ter sido um grande complexo urbano que pode ter abrigado até 50 000 habitantes. Construído provavelmente pelos antepassados dos atuais povos Kuikuro, o sítio abriga construções complexas como estradas, fortificações e trincheiras para proteção. Como a descoberta é recente, estudos sobre as formas de vida dessas populações ainda são necessários, embora os estudiosos acreditem que esse povo cultivava a mandioca.[47] O desaparecimento dessa civilização, assim como de outras grandes civilizações amazônicas, é relacionado à entrada de doenças europeias no continente, responsáveis por dizimar as populações locais, por volta do ano 1500 de nossa era. As características naturais da Floresta Amazônica (mata densa etc.) explicariam porque os antigos europeus não travaram conhecimento com esta civilização brasileira.[48]

Monte de Teso dos Bichos (400 a.C. - 1300 d.C.

Ver artigo principal: Monte de Teso dos Bichos
O Monte de Teso dos Bichos, localizado na Ilha de Marajó, é o local onde floresceu uma das mais elaboradas civilizações da Amazônia pré-cabralina, ocupando 2,5 hectares. Com uma população estimada em 500 mil pessoas, os habitantes dessa civilização pertenciam a uma sociedade de tuxauas, senhores da foz do Amazonas. Havia divisão do trabalho entre homens e mulheres, uma dieta rica em proteína animal e vegetal e refrescos fermentados (como o aluá).[49]
Uma das características marcantes das sociedades complexas da Ilha de Marajó são os "tesos", aterros artificiais de grande porte construídos para a colocação de habitações, provavelmente visando evitar inundações. Os tesos marajoaras são considerados estruturas monumentais e, por esse motivo, são essenciais para a interpretação do passado marajoara.[50] Em outubro de 2009, um grupo de geólogos alegou que os "tesos" poderiam ser construções naturais, hipótese que invalidaria parcialmente as interpretações acerca da existência de sociedades complexas na Amazônia.[51] No entanto, arqueólogos de renome como André Prouss e Anna Curtenius Roosevelt, questionaram a competência da equipe de geológos e afirmaram que apenas arqueólogos possuem os instrumentos técnicos para verificar indícios de atividade humana.

Principais sítios arqueológicos

Alice Boer

O sítio Alice Boer se localiza em Ipeúna, município próximo a Rio Claro, em São Paulo. Foi escavado por iniciativa da arqueólogos Maria Beltrão a serviço do Museu Nacional a partir de 1964. Os primeiros brasileiros da região parecem ser muito antigos e produziram artefatos como pontas de projéteis, raspadores e lesmas. Uma amostra de carvão deste sítio forneceu a data de 14200 anos.[52][53]

Abismo da Ponta de Flecha

O sítio Ponta de Flecha foi escavado entre 1981 e 1982 por C. Barreto e E. Robrahn. Os achados do sítio – entre eles pontas de flecha e ossos – datam tanto da época pleistocênica quanto holocênica. Os ossos de animais encontrados foram marcados por instrumentos líticos humanos.[54]

Pedra Pintada

Ver artigo principal: Caverna da Pedra Pintada
A professora de antropologia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, Anna Roosevelt (bisneta do presidente norte-americano Theodore Roosevelt) coordenou, em 1996, uma equipe que pesquisou a Caverna da Pedra Pintada, em Monte AlegrePará, na margem esquerda do Rio Amazonas, a poucos quilômetros do que é hoje Santarém.
Os brasileiros pré-históricos daquela região sustentaram-se com uma economia estável e produziram uma cultura e tecnologias bastante superiores às de seus primos da América do Norte. Os paleoíndios moraram em cavernas confortáveis e protegidas, tinham uma dieta mais saudável e produziram cerâmicas, pinturas rupestres e pontas de flechas. Eles eram caçadores de pequenos animais e coletores de frutas. No auge de sua civilização, chegaram a abrigar cerca de 300 000 indivíduos.
Foram encontradas pontas de lança e cacos de cerâmica datados de 6.000 a 10.000 anos. Os resultados concluíram que os paleoíndios (os primeiros habitantes das Américas) viveram na região amazônica de 11,2 a 10.000 anos atrás. São provas convincentes de que a ocupação humana na América se deu há mais de 20.000 anos.
Ainda assim, as descobertas de Roosevelt ainda não refutaram totalmente a hipótese da chegada dos primeiros habitantes da América pelo Estreito de Bering. O movimento migratório teria ocorrido em levas sucessivas. As populações amazônicas, cujos sinais encontrou na caverna da Pedra Pintada, provavelmente migraram para o sul sem ter tido contato com os caçadores de mamutes americanos.

Pedra Furada

Ver artigo principal: Parque Nacional da Serra da Capivara

Pinturas do sítio de Pedra Furada.
O sítio arqueológico de Pedra Furada, localizado em São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da CapivaraPiauí, foi encontrado na década de 60. Ele vem sendo estudado, desde os anos 70, por Niède Guidon, uma arqueóloga franco-brasileira. Os achados (pedras lascadas e vestígios de fogueiras) datam de aproximadamente 11.000 anos. Segundo a equipe, não é impossível que os achados possam ter até 48.000 anos. A tese de Guidon vai bem mais longe - cerca de 100 mil anos - e pressupõe que o homem não teria chegado à América vindo da Ásia por terra (via estreito de Bering como se acredita até hoje) e sim, pelo mar, já se utilizando de embarcações. Contudo, as descobertas de São Raimundo Nonato permanecem controversas e ainda não refutam totalmente a Teoria Clóvis.
O sítio também abriga o Museu do Homem Americano. Painéis iluminados e auto explicativos contam a história da presença do homem na América com desenhos, mapas e textos. O espaço também guarda urnas funerárias em argila e réplicas de dois esqueletos humanos encontrados em cavernas da região. Um deles, uma índia de cerca de 30 anos de idade foi encontrado praticamente completo e data de 9,7 mil anos.
Também na região foram encontrados desenhos na Toca do Boqueirão, também em Pedra Furada, que parecem representar uma cena de ataque dos terríveis felinos que já habitaram o continente. As concepções dos atuais índios que habitam a região nordeste do país, a exemplo dos cariris, apesar de bastante modificadas, ainda podem se constituir num elemento útil para decifrar tais representações com uma estratégia conjetural. Uma interpretação sobre os desenhos da figura humana desses povos revela uma surpreendente complexidade que pode muito bem corresponder a um mapa das sensações corporais e/ou uma concepção de corpo e espírito. Os encantados são descritos pelos cariris, em geral, como homens descomunais, ferozes e implacáveis, de feição rude e olhos esbugalhados, verdadeiramente assustadores, segundo o antropólogo Nascimento, que estudou em sua tese para Mestrado na Universidade Federal da Bahia os rituais e identificação étnica dos índios do nordeste a partir das concepções de um grupo remanescente - os cariris de Mirandela, (Bahia) em 1994.ela foi fundida em raimundo nonato.

Lagoa Santa

Ver artigo principal: Lagoa Santa
No Brasil, além dos restos do Piauí, existe também um antiquíssimo conjunto achado na região de Lagoa Santa (Minas Gerais), possivelmente os representantes do antigo grupo lingüístico do país - Macro Jê -, cujos descendentes mais próximos hoje seriam os índios cariris e botocudos.[55][56][57]
Em 1974, na Lapa Vermelha IV durante a escavação da equipe de Annette Laming-Emperaire, foi descoberto um esqueleto humano datado em 11,5 mil anos Antes do Presente, o mais antigo da América, posteriormente apelidado de Luzia. Ela colocou ainda mais dúvidas sobre a Teoria Clóvis, já que é uma mulher com características bem distintas dos indígenas atuais (que são mais próximos do grupo epigenético mongolóide). Luzia foi investigada pelos bioantropólogos e arqueólogos Walter Alves NevesAndré Prous, Joseph F. Powell, Erik G. Ozolins e Max Blum.[58]

Período pré-cabralino Recente

Enquanto a maior parte da pesquisa sobre o Brasil mais antigo analisava principalmente os vestígios materiais deixados por esses povos, o Brasil pré-cabralino recente costuma ser estudado através das línguas nativas. Com efeito, o estudo sobre as línguas nativas permite compreender inúmeros aspectos das culturas pré-cabralinas, além de seus parentescos históricos e de suas migrações. Quando os cronistas europeus descreveram os antigos povos brasileiros, utilizaram sobretudo denominações linguísticas e, graças ao trabalho missionário de alguns jesuítas, temos hoje conhecimento das antigas línguas brasílicas (que deram origem às línguas indígenas modernas).

Gravura de Jean-Baptiste Debret retratando uma família camacã no início do período colonial.
Resta-nos, contudo, a tarefa de associar os achados antigos aos povos recentes, que conhecemos principalmente a partir de grupos linguísticos. Um estudo desse tipo não foi realizado no Brasil ainda. Apenas um grupo pré-cabralino recente foi associado suficientemente aos achados antigos: os grupos da família linguística Tupi-Guarani. Estes, na época da chegada dos europeus, dominavam o atual litoral brasileiro, conhecido por "Pindorama". Outra fonte importante para a reconstrução da história recente dos povos pré-cabralinos é a mitologia indígena. Sabe-se hoje ser possível estabelecer relações entre os elementos dos mitos e acontecimentos que consideramos "históricos". As fontes mitológicas tem sido empregadas para estudar movimentos migratórios,as relações estabelecidas entre os povos brasileiros e, por exemplo, o Império Inca, etc.
Quando os europeus passaram a ocupar a costa oriental da América do Sul, encontraram etnias vinculadas a quatro principais grupos linguísticos: os arauaque, os tupi-guaranis,os  e os karib.[59] Devemos tomar cuidado para não confundir grupo linguístico com grupos étnicos. Dentro de um mesmo grupo linguístico havia numerosas e diferentes unidades identitárias possuindo dialetos, práticas culturais e filosofias próprias. Nosso conhecimento dos povos indígenas por meio das crônicas europeias é limitado por diversas razões.
A primeira delas, é que a imagem europeia sobre os povos pré-cabralinos foi marcada por um processo de enquadramento da América em categorias europeias, de forma que as crônicas nos fornecem informações mais valiosas para o estudo dos próprios europeus modernos do que para o estudo dos nativos. A segunda delas, é que as crônicas foram escritas numa época de transformação, uma vez que a entrada dos europeus trouxe doenças e influências novas para o mundo indígena, modificando consideravelmente a antiga realidade em que viviam. Por fim, as crônicas acompanham o avanço da "fronteira" europeia na América, de forma que grande parte dos povos indígenas só chegaram a ser conhecidos pelos ocidentais no século XIX, após terem modificado muitos de seus costumes; é interessante notar que muitas tribos indígenas no Brasil continuam isoladas do mundo ocidental até hoje.

Tupi

Ficheiro:Idolo antropomorfo de Iguape (cropped).jpg
Ídolo de Iguape, encontrado pelo pesquisador Ricardo Krone em 1906. A descoberta ocorreu durante uma de suas pesquisas no sambaqui do Morro Grande, na Estação Ecológica da Juréia-Itatins. Sua idade, calculada pelo carbono 14, revelou que possuía mais de 2 500 anos.
Um dos grandes grupos linguísticos do Brasil, e que parece ter se expandido imensamente sobre o território brasileiro antes de 1500, é o grupo tupi. A principal família linguística dentro desse grupo maior é a tupi-guarani. Esses povos devem ter primeiramente habitado a região das cabeceiras dos rios Madeira,Tapajós e Xingu. A expansão tupi-guarani aconteceu há 3 mil e 2 mil anos, pouco depois de esse grupo ter se diferenciado de outros na região entre o Xingu e o Madeira, formando novos subgrupos linguísticos, como os cocamasomáguasguaiaquis e xirinós. Os povos de línguas cocama e omágua dirigiram-se ao rio amazonas, enquanto os guaiaquis chegaram ao Paraguai e os xirinós à BolíviaTapirapés e tenetearas deslocaram-se em direção ao nordeste. Os povos de línguas pausernacajabi e camaiurá deslocaram-se até a região extremo sul do Brasil.
Os povos de língua oiampi chegaram até a região das Guianas. A última fase de dispersão dos povos tupi-guaranis ocorreu por volta do ano 1000. Os falantes de línguas associadas à família tupi-guarani estariam já instalados no sul do Brasil (guaranis etc.), na bacia amazônica e também no litoral do Brasil (potiguarestupinambástupiniquins). Os dados linguísticos nos permitem avaliar essas sociedades como expansivas e em constante movimento. Graças a uma impressionante rede de caminhos fluviais, os povos desse grupo linguístico puderam se difundir e, ao mesmo tempo, manter contato uns com os outros. O uso de canoas (ygara em tupi antigo) para navegar rios permitia o enviamento de missões militares e diplomáticas de uma região para outra.

Mapa do Brasil mostrando os principais povos indígenas à época do descobrimento.
Muitos artefatos arqueológicos do período cerâmico são filiados a esses antigos povos de matriz linguística tupi-guarani. Os sítios arqueológicos associados a essas populações constituíam-se em aldeias extensas, normalmente localizadas em regiões de planalto ou em terraços. Nesses sítios arqueológicos, de largura média entre 2 000 e 10 000 metros quadrados, a cerâmica antiga é abundante. As unidades habitacionais são cabanas, que podiam alcançar até 60 metros quadrados de diâmetro. Dentro dessas cabanas, foram localizados fogueiras e fornos para cozimento.
As áreas dos sítios são definidas em espaço cerimonial, público e residencial. O espaço dos vivos é separado daquele dos mortos (muitos cemitérios antigos foram localizados). A arqueologia identificou sepultamentos em urnas e outros em terra. Artefatos líticos são encontrados junto dos sepultamentos, provavelmente objetos de uso pessoal. A cerâmica gupi-guarani (particularmente abundante no Paraná) é caracterizada pelos desenhos policrômicos de traços lineares.
A cronologia para a história dos povos tupis-guaranis se baseia em teorias arqueológicas, na glotocronologia e na datação de cerâmicas identificadas aos tupis-guaranis. Como vimos pela história dos tupis-guaranis a partir de suas línguas, o movimento de expansão ocorreu entre 3 mil e 2 mil anos atrás a partir da região amazônica; a maior parte dos artefatos arqueológicos desses povos são datados entre o ano 500 e o ano 1500. A época da expansão para o litoral é constatada pela maior concentração de artefatos nessa região entre os séculos XI e XIII.

Macro-Jê

As línguas associadas à matriz linguística Macro- devem ter sofrido diferenciação por volta de 6 mil anos atrás. Sua expansão inicia-se há 3 mil anos, pela Região Centro-Oeste do Brasil. O grupo Jê propriamente dito é possivelmente originário das regiões das nascentes dos rios São Francisco e Araguaia. Grande parte dos povos de língua Jê se afastaram dos Kaingang e Xokleng, seguindo para o sul da região central brasileira. Alguns grupos devem ter se separado destes últimos e seguido até a região amazônica há pelo menos mil anos. Os povos Jês preferiam se instalar em regiões de Planalto (como a original região do Planalto brasileiro), como nos permite constatar o estudo de suas línguas Entre as línguas do tronco Macro-Jê encontram-se: KayapósXerentesTimbiras, etc.

Caraíbas

Os povos de língua caraíbas também passaram por um processo de expansão há 3 mil anos, aproximadamente. Essa família linguística é talvez originária da atual região das guianas e do extremo norte do Brasil. Os Yukpa e os Karijona, ramificações dessa família linguística, teriam se diferenciado e migrado para a Colômbia, enquanto os Bakairi teriam seguido para o centro do Brasil. O empréstimo de termos Tupi nas línguas Karib (e vice-versa) aponta para a existência de redes complexas de comércio e tráfico de pessoas entre tais povos.

Aruaque e outros

As línguas de matriz aruaque concentram-se hoje na região sudoeste da Bacia amazônica. A principal família linguística associada a esse grupo é a Maipure, dividida em quatro subgrupos regionais. Existe grande polêmica em relação às origens, às migrações e aos descendentes desses povos, além de suas relações com outros grupos linguísticos do Brasil Antigo. Outros grupos linguísticos menores, sem parentescos com os outros maiores, existem no BrasilMuraChapkuraPanoYanomani, etc.

Pindorama

Ver artigo principal: Pindorama

Distribuição dos grupos de língua tupi e não tupi (tapuia) na costa de Pindorama, no século XVI.
Na véspera da chegada dos europeus à América em 1500, calcula-se que o atual território do Brasil (a costa oriental da América do Sul) fosse habitado por dois milhões de indígenas, do norte ao sul.[60]
Segundo Luís da Câmara Cascudo, os tupis foram o primeiro agrupamento "indígena que teve contacto com o colonizador".[61] A influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, etc. Os povos do grupo Tupi-Guarani habitavam a região chamada por eles de "Pindorama" (terra das palmeiras), atual região oriental da América do Sul, que habitava o imaginário Tupi-Guarani como terra mítica, uma terra livre dos males. Os arqueólogos acreditam que o mito acerca de "Pindorama" tenha se formado na época das antigas migrações, quando os Tupi-Guaranis se dirigiram para o litoral brasileiro.[62]
Sabemos os nomes de alguns dos principais grupos que habitavam Pindorama na véspera da chegada europeia (entre eles alguns de origens não-tupi): os potiguaras, os tremembés, os tabajaras, os caetés, os tupiniquins, os tupinambás, os aimorés, os goitacás, os tamoios, os carijós e os temiminós. Os potiguaras habitavam a região entre o Rio Acaraú e o Rio Paraíba e controlavam a navegação fluvial. Durante a conquista, aliaram-se aos franceses, sendo que alguns relatos falam de casamentos entre potiguaras e franceses, envolvendo acordos bélicos anti-portugueses. Os Tabajaras habitavam a margem meridional do rio Paraíba, na região atual do litoral pernambucano. Foram importantes aliados dos portugueses durante a conquista. Os Caetés habitavam a região de Pernambuco desde Olinda, "a Marim dos Caetés", até onde encontra-se hoje o estado de Alagoas, desmembrado de Pernambuco. Tornaram-se célebres na História do Brasil por terem devorado o Bispo Sardinha.
Os Tremembés habitavam a margem ocidental do rio Acaraú. Os tamoios habitavam a Baía da Guanabara; seus líderes, Cunhambebe e Aimberê, aliaram-se com os franceses no combate aos portugueses. Os carijós habitavam o litoral sul do país. Os tupiniquins habitavam a atual região do Estado de São Paulo, e os Tupinambá a região sudeste do Brasil. Nosso conhecimento do tupi antigo é principalmente baseado na língua dos Tupinambás (embora esses não constituíssem os "principais tupis", como alguns autores apontam).
Os povos tupis viviam em aldeias que reuniam de 600 a 700 habitantes. Algumas aldeias eram fortificadas em razão das guerras inter-tribais. Nenhuma autoridade aparecia com força absoluta ou consideravelmente forte sobre os outros integrantes da sociedade, embora houvesse "hierarquias" em função do gênero, do mérito guerreiro e dos poderes xamânicos. Os Pajés (Payes em tupi antigo, intermediários entre o mundo religioso e o mundo dos homens) e os Caciques (morubixaba em tupi antigo, chefes guerreiros) ocupavam, em geral, o papel de autoridades das tribos.[2][63] A subsistência baseava-se na caça e na horticultura. Os homens acreditavam nos bons e nos maus espíritos (tupã, anhang, etc.), que influenciavam os acontecimentos no cosmos. Cada homem trazia um maracá, no qual acreditavam habitar um espírito protetor de cada indivíduo. Acredita-se que apenas os filhos dos homens mais importantes da tribo fossem enterrados nas urnas funerárias. Os acontecimentos religiosos tinham alcance amplo, e reuniam diferentes etnias. Os antigos indígenas foram responsáveis por inúmeras manifestações artísticas, como peças de cerâmica, danças, canções/poesia (registradas por Léry) e, a que mais impressionou os ocidentais, a plumária extremamente sofisticada e rica.[64] A Literatura Tupi aparece com a chegada da escrita europeia, quando missionários passam a escrever em tupi para converter os nativos, e as crônicas transcrevem canções indígenas.[65]

Toponímias

A permanência de nomes tupis (tupi antigo, nhe'enga tupi ou língua geral) para nomear diversas regiões do Brasil atual é um indicador da influência da língua indígena na cultura brasileira. Os historiadores de Brasil Colonial concordam que até o século XVIII o tupi era provavelmente a língua mais falada em algumas regiões da América Portuguesa. Nomes de regiões, rios e cidades brasileiras têm suas raízes no período de Pindorama, e no período colonial. Alguns exemplos:
  • Guaratinquetá = gûyrá-tinga-etá = Muitas Garças
  • Jacareí = îakaré 'y = Rio dos Jacarés
  • Piraguá = Pira Kûá = Baía dos Peixes
  • Araraquara = Arara Kûara = Toca das Araras

O Brasil pré-cabralino e a Europa

Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários tratados entre Portugal e Espanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda por descobrir.
Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de Tordesilhas (1494) é o mais importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período em que o Brasil foi colônia portuguesa.[66] Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste de um meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos reis de Castela (atualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa Catarina.
Quando soube do tratado, o rei de França Francisco I teria indagado qual era "a cláusula do testamento de Eva" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilha.

Ver também

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o p q r Manuela Carneiro da Cunha (2008). «História dos Índios no Brasil».
  2. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o André Prous. «Arqueologia brasileira».
  3. Ir para cima Angyone Costa (1980). «Introdução à arqueologia brasileira»
  4. ↑ Ir para:a b c Ambiente Brasil. «Arqueologia no Brasil»
  5. Ir para cima Museu Goeldi «Linha do Tempo: Museu Emílio Goeldi» Verifique valor |url= (ajuda)
  6. Ir para cima «Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo»
  7. Ir para cima Museu de Arqueologia e Etnologia. «Quantos anos tem o Brasil?».
  8. Ir para cima «Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas»
  9. Ir para cima «IPHAN».
  10. Ir para cima Instituto Anchietano de Pesquisas (2009). «Construindo a arqueologia no Brasil: a trajetória da Sociedade de Arqueologia Brasileira»
  11. Ir para cima «Sociedade de Arqueologia Brasileira»
  12. Ir para cima Nina G. Jablonski (2002). «The First Americans» (em inglês).
  13. Ir para cima «Sítio Arqueológico Alice Boer»
  14. Ir para cima FUNDHAM. «Parque Nacional Serra da Capivara»
  15. Ir para cima Claudio Angelo (21 de março de 2005). «Crânios sugerem que povo de Luzia habitou México e São Paulo»Folha de S.Paulo
  16. Ir para cima Gabriela Martin (1997). «Pré-história do Nordeste do Brasil»
  17. Ir para cima Águeda Vilhena Vialou (2006). «Pré-história do Mato Grosso: Cidade de Pedra - Página 202»
  18. ↑ Ir para:a b c d e f Índios do Brasil (2007). «índios do Brasil».
  19. Ir para cima «Luzia»
  20. Ir para cima «Who were the first americans? National Geographic» (em inglês). Consultado em 11 de janeiro de 2012
  21. Ir para cima Walter Alves Neves & Luís Beethoven Piló. «O Povo de Luzia».
  22. Ir para cima «Primeiros brasileiros eram sedentários, sugerem pesquisas. Folha de S.Paulo, 21 de outubro de 2009»
  23. ↑ Ir para:a b c «Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia»Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia.
  24. Ir para cima Leandro Augusto Franco Xavier (2007). «Arqueologia do Noroeste Mineiro: análise de indústria lítica da bacia do Rio Preto - Unaí, Minas Gerais, Brasil»USP
  25. Ir para cima «Pinturas Rupestres na Serra da Capivara»
  26. Ir para cima Folder da Fumdham. «Inscrições rupestres: Serra da Capivara»
  27. Ir para cima André Luis Ramos Soares (2005). «Contribuição à Arqueologia Guarani: estudo do Sítio Röpke»
  28. Ir para cima Solange Nunes de Oliveira Schiavetto (2003). «A arqueologia guarani»
  29. Ir para cima Guilherme Schuch de Capanema (1876). «Os sambaquis»
  30. Ir para cima Madu Gaspar (2000). «Sambaqui: arquelogia do litoral Brasileiro»
  31. Ir para cima Paulo Duarte (1968). «O sambaqui: visto através de alguns sambaquis»
  32. Ir para cima Anna Curtenius Roosevelt (1991). «Moundbuilders of the Amazon»
  33. Ir para cima Rossano L. Bastos e Pedro Funari. «Handbook of South American Archaeology: Public Archaeology and Management of the Brazilian Archaeological-Cultural Heritage»
  34. Ir para cima Marcos Pereira Magalhães. 12 - artigo 1.pdf «Evolução antropomorfa da Amazônia» Verifique valor |url=(ajuda) (PDF)
  35. Ir para cima Betty Jane Meggers, Clifford Evans (1974). «A reconstituição da pré-história amazônica»
  36. Ir para cima «Agricultura Amazônica pode chegar a oito mil anos».
  37. Ir para cima Marcos Pereira Magalhães. «Evolução antropomorfa da Amazônia» (PDF)
  38. Ir para cima Denise Maria Cavalcante Gomes (2002). «Vasilhas da coleção tapajônica MAE-USP»USP
  39. Ir para cima John Roach. «Ancient Amazon Cities Found; Were Vast Urban Network»
  40. Ir para cima Anna Roosevelt (1997). «Amazonian Indians from Prehistory to the Present»
  41. Ir para cima Discovery News. «Ancient Amazon Civilization»
  42. Ir para cima Monica Trindade e Mauricio Paiva. «Amazonia Antiga»
  43. Ir para cima Anna Curtenius Roosevelt. «Arqueologia Amazônia»
  44. Ir para cima «História da América Latina: América Latina Colonial»
  45. Ir para cima Anna Roosevelt, http://www.acroosevelt.net/
  46. Ir para cima «Povo Kuikuro»
  47. Ir para cima M. Heckenberger. «Amazônia»
  48. Ir para cima «Lost Amazon Cities»Scientific American
  49. Ir para cima Márcio Souza. «Breve história da Amazônia»
  50. Ir para cima «IstoÉ Amazônia»
  51. Ir para cima «Povos antigos não fizeram aterros no Pará, diz grupo»Folha de S.Paulo. 19 de outubro de 2009
  52. Ir para cima «A Pré-História Brasileira» (PDF)
  53. Ir para cima Adriana carvalho Koyama (2006). «O povoamento da região de Indaiatuba e os Guarani»
  54. Ir para cima «Revista de pré-história»USP. 1979
  55. Ir para cima Alenice Maria Motta Baeta. «Os grafismos rupestres e suas unidades estilísticas no Carste de Lagoa Santa e Serra do Cipó - MG»2011
  56. Ir para cima Francisco Antonio Pugliese Junior (2008). «Os líticos de Lagoa Santa: um estudo sobre organização tecnológica de caçadores-coletores do Brasil Central»USP
  57. Ir para cima Andre Menezes Strauss (2010). «As práticas mortuárias dos caçadores-coletores pré-históricos da região de Lagoa Santa (MG): um estudo de caso do sítio arqueológico "Lapa do Santo"»
  58. Ir para cima Neves, Walter A.; Joseph F.. . "Lapa vermelha IV Hominid 1: morphological affinities of the earliest known American". Genetics and Molecular Biology 22 (4): 461-469. DOI:10.1590/S1415-47571999000400001ISSN1415-4757.
  59. Ir para cima «Panorama das Línguas Indígenas da Amazônia»
  60. Ir para cima Francisco S. Noelli. «Os Antigos Habitantes do Brasil» (PDF)
  61. Ir para cima CASCUDO, Luís da Câmara, Dicionário do folclore brasileiro, p. 865 do volume II.
  62. Ir para cima «Pindorama»
  63. Ir para cima Estudos etnológicos, que partem de dados obtidos entre comunidades indígenas brasileiras em alguns casos, apontam para a virtual inexistência de um poder político separado do grupo nas sociedades ditas simples(isto é, sociedades sem Estado), de forma que o "chefe" é meramente um representante da coletividade do grupo e não possui poder efetivo. Nesse caso, o surgimento de sociedades mais ou menos hierarquizadas na época da conquista pode estar relacionada ao próprio impacto da chegada dos portugueses, se acreditarmos que as comunidades indígenas brasileiras se organizavam como "sociedades simples" no período imediatamente posterior à colonização. A dinâmica interna da história pré-cabralina também pode ser invocada para explicar determinadas transformações. Cf. análises do trabalho de Pierre Clastres «A Socialidade contra o Estado: a antropologia de Pierre Clastres»(PDF)«Reflexões sobre a contribuição de Pierre Clastres à Antropologia Política» (PDF)
  64. Ir para cima «arqueologia brasileira»
  65. Ir para cima «Academia Brasil-Europa»
  66. Ir para cima LIMA, Oliveira. Descobrimento do Brasil. in: Livro do Centenário (1500-1900) (v. III). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.

Bibliografia

  • Arqueologia Brasileira - ANDRÉ PROUS - 2ª ed. (2002), 1ª ed. (1992) Brasília: Editora da UNB, ISBN 85-230-0316-9
  • O Brasil Antes Dos Brasileiros: A Pré-História do Nosso País - ANDRÉ PROUS - (2006) - Editora: Jorge Zahar Editor Ltda., ISBN 8-571-10920-6
  • Bones, Discovering the First Americans, por Elaine Dewar, Carroll & Graf Publishers, New York, 2002, hardcover - ISBN 0-7867-0979-0
  • História do Brasil por Claudio Vicentini - ISBN 8526232029
  • FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. São Paulo. Ed. Ática. 2006.

Ligações externas

 

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This is my contribution, but it was on air before 10.10.10...
May be on 11.11.11
All the best,
Jorge

Jorge Luis Jószás de Purgly

How about saying Saluton on 101010

Posted on September 22, 2010 at 3:29pm 0 Comments

Saluton is cheers in Esperanto.
How about saying Saluton to the Earth on 101010?

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At 2:30pm on November 26, 2012, Christy Zwicke said…

Hi Jorge,

I just watched your film of Zambia from 10.10.10 - great job! Are you going to film anything for 12.12.12?

best wishes,
Christy

At 12:15am on September 23, 2010, Samantha Pagan said…
Saluton Jorge! I put your Esperanto video in the main section of your group, since the video you posted in the comments did not format correctly. Looking forward to learning more about Esperanto!

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